A segurança do paciente sempre deve estar em primeiro lugar. Por isso, os cuidados de…
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 4 em cada 10 pacientes sofrem danos durante a atenção primária e ambulatorial. Esses “efeitos colaterais” da assistência à saúde — que compõem a chamada iatrogenia — levantam a reflexão sobre o custo-benefício de nossos próprios atos. Para reduzi-los, são urgentes a implementação e a disseminação de uma cultura de segurança do paciente.
Para isso, o enfermeiro, que está em contato estreito com o indivíduo, ganha um papel central na equipe assistencial. Neste artigo, explicaremos o que é a cultura de segurança do paciente, como implementá-la corretamente e qual a importância da enfermagem no processo. Continue lendo para saber mais.
O objetivo da cultura de segurança é implementar uma série de cuidados rotineiros e padronizados para evitar prejuízos ao paciente. Como esses danos geralmente vêm de erros da equipe, é importante tornar corriqueiros os cuidados para evitá-los — daí o nome “cultura”, que pressupõe a habituação a essas medidas.
Dado o estresse cotidiano da área da saúde, a negligência das práticas de segurança não é incomum entre os profissionais. Por esse motivo, a cultura de segurança requer práticas simples, que sejam facilmente memorizadas e possam se tornar medulares na equipe.
Nesse processo, a enfermagem ganha um papel significativo: afinal, é ela a responsável por grande parte dos processos que envolvem diretamente o paciente no cuidado. Por isso, ela acumula tanto a função de coordenar a implementação da cultura quanto a de praticá-la no dia a dia. No futuro, esperamos que a centralização da cultura de segurança esteja sempre nas mãos da enfermagem — área que está em maior contato com o paciente.
Dada a relevância do tema, já há consensos internacionais e protocolos específicos para promover a cultura de segurança do paciente. Embora a instituição possa optar por personalizar os seus próprios protocolos, esses consensos podem servir de inspiração e de molde inicial para eles.
Um dos protocolos mais conhecidos foi cunhado pelo Joint Commission International e pela OMS. Ele preconiza 6 metas internacionais para garantir a segurança do paciente, que podem ser facilmente mensuráveis como uma métrica da qualidade do serviço. No Brasil, o protocolo é adotado pela EBSERH, responsável pelos hospitais universitários. A seguir, detalharemos cada uma das 6 metas e como elas podem ser colocadas em prática. Confira.
A identificação do paciente é uma tarefa tão simples que é facilmente esquecida pelos profissionais da saúde; no entanto, quando ela ocorre, pode dar origem a erros graves, como troca de prescrições e até procedimentos indevidos. Por isso, a identificação ganha o primeiro lugar dentre as metas internacionais para a segurança do paciente.
Uma das maneiras de garantir uma identificação eficaz é conferindo, pelo menos, dois dados de cada paciente: se cada profissional envolvido no cuidado sempre questionar o nome e o número de prontuário, por exemplo, é possível diminuir drasticamente os erros de identificação.
A prática é eficaz porque, frequentemente, a confusão deriva de um fator em comum entre os pacientes: se há dois internados cujo nome é “José” no mesmo quarto, por exemplo, o risco de confundi-los é considerável. Adotando um segundo fator na identificação, a chance de eles também serem semelhantes é muito menor.
Como o ambiente hospitalar conta com diversos profissionais, uma comunicação eficaz é fundamental. Caso ela seja falha, o erro pode se propagar na cadeia de ação e tomar proporções ainda maiores.
Nesse campo, há algumas abordagens que podem ser adotadas, que mudam de acordo com os objetivos e com a realidade da instituição. Uma das mais comuns é a “comunicação em alça”, em que a pessoa que recebe a ordem sempre a repete para verificar se entendeu corretamente. Apenas após a confirmação do superior, ela inicia a ação que foi solicitada.
A prescrição é um item crucial no ambiente intra-hospitalar: erros considerados simples, como a adição de um 0 ou o esquecimento de uma vírgula, podem gerar consequências desastrosas. Por isso, ela merece atenção especial na cultura de segurança do paciente.
Uma das maneiras de garantir essa segurança é implementando a conferência por todos os profissionais envolvidos — desde os médicos até o faturamento, passando pelos enfermeiros e técnicos. Caso haja alguma dose pouco usual ou medicamentos que interfiram entre si, o médico deve ser consultado para autorizar novamente a prescrição.
Embora os procedimentos cirúrgicos sejam considerados atos médicos, a enfermagem também pode auxiliar na segurança do paciente. A verificação de checklists de segurança durante o procedimento, por exemplo, é frequentemente feita pela enfermagem; além disso, a adequação do procedimento quanto à identificação e ao local também pode ser feita em conjunto com enfermeiros e técnicos.
A infecção hospitalar está estreitamente relacionada à transmissão pelos próprios funcionários da instituição. Desde cirurgias até procedimentos corriqueiros, como os cuidados diários, estão predispostos à contaminação de um paciente previamente hígido. Como hospitais geralmente lidam com organismos agressivos e resistentes, a infecção por esses micróbios é considerada, também, um erro da equipe assistencial.
A prevenção da transmissão de micro-organismos é garantida pela correta higienização de mãos e pela esterilização de equipamentos. Além disso, cuidados com pacientes em isolamento respiratório ou precaução de contato evitam que os próprios profissionais sejam contaminados por organismos resistentes. Como essas são medidas cotidianas, é fundamental criar o hábito de preocupação com as infecções hospitalares para evitá-las.
No Brasil, as quedas são o terceiro evento adverso mais comum no cenário intra-hospitalar, ocorrendo principalmente nas camas e no banheiro. Esse dado é preocupante, porque quedas podem ser facilmente controladas com medidas simples no cotidiano. Por esse motivo, sua redução ganha o último espaço nas metas internacionais de segurança do paciente.
Dentre as medidas adotadas para reduzir o risco de quedas, estão o levantamento do gradil das camas e o uso racional de drogas sedativas. Além disso, pacientes com alto risco de quedas merecem uma atenção mais estreita da equipe assistencial, especialmente da enfermagem. Para reduzir esse evento adverso, são fundamentais o cuidado constante e a suspeição de pacientes mais arriscados.
Como percebemos, cada uma das metas de segurança do paciente requer o envolvimento de toda a equipe e a adoção de práticas rotineiras. Para que elas sejam eficazes, deve haver um incentivo constante para torná-las atividades medulares, profundamente inseridas no dia a dia dos profissionais.
Nesse sentido, surge outro papel da enfermagem na cultura de segurança do paciente: a coordenação da equipe. Como áreas administrativas são frequentemente organizadas por enfermeiros, é comum que caiba a eles a gestão geral dessas medidas. Esse é outro motivo pelo qual a enfermagem é tão importante na gestão de risco intra-hospitalar.
A cultura de segurança do paciente vem ganhando destaque em todo o mundo. Dentre os motivos para essa tendência, estão o alto impacto dos eventos adversos e a facilidade de sua prevenção. Nesse cenário, os enfermeiros se destacam devido à sua proximidade com o paciente e ao seu frequente posicionamento em cargos de liderança.
Se você quer aprimorar ainda mais essa cultura, não perca tempo: conheça 5 características da excelência no atendimento ao paciente!