A saúde mental dos profissionais de saúde é um tema recorrente a ser trabalhado, mas…
A incidência do coronavírus no Brasil é preocupante. No entanto, é sabido que a saúde pública do país e o seu sistema de atendimento são modelos de referência no mundo inteiro. Desenvolvido para abranger a diversidade que o Brasil apresenta, o SUS (Sistema Único de Saúde) tem como base a integralidade, a universalidade e a equidade de todos os pacientes e trabalhadores.
Criado para democratizar a saúde brasileira, o SUS tinha como interesse oferecer serviços de qualidade para a população, destacando o serviço público como um direito de todos os cidadãos. Acontece que, ao longo da história de sua consolidação, o sistema público foi deixado de lado e passou a gerar grandes problemas aos profissionais da área.
Esse cenário é alterado significativamente neste momento em que estamos diante da pandemia de coronavírus, vivenciada nos meses de 2020, que impactará a assistência clínica à população de risco em virtude das condições de infraestrutura dos serviços em saúde.
Quer conhecer os maiores desafios da saúde pública nacional e como a pandemia do coronavírus vai desestabilizar o sistema? Continue lendo nosso artigo!
Atualmente, o SUS cobre cerca de 75% da população brasileira. Por si só, esse não é o problema, já que uma das bases do sistema é a universalidade, ou seja, garantir que todos tenham direito aos serviços de atenção à saúde.
No entanto, onde mora o desafio, então? A resposta é simples: nos baixos investimentos. Só em 2017, o governo bloqueou aproximadamente 42 bilhões de reais com gastos públicos, sendo que parte desse dinheiro era destinado ao SUS (para a implementação de melhorias técnicas, administrativas e de infraestrutura).
Com isso, os gastos permaneceram os mesmos, mas a verba que entrava era menor — somente 3,6% do orçamento estatal —, fazendo com que o sistema tivesse uma quebra e dificultando ainda mais o aprimoramento da saúde pública.
Além disso, a ineficiente administração financeira e o repasse irregular de orçamentos prejudicam a qualidade do trabalho, já que tendem a priorizar as unidades de média e alta complexidade, como os hospitais, em vez de investir na atenção básica.
Em outras palavras, mesmo com o financiamento baixo, uma forma de ultrapassar o desafio dos gastos públicos é organizando o orçamento estatal. Deve ser repassada uma quantia maior à atenção básica, para investimentos nas unidades de saúde, nas estratégias de atendimento à família, nos centros de atenção psicossocial e nos postos de saúde. Assim, será possível evitar as grandes ocupações nos hospitais — sobre a qual falaremos mais a seguir.
É preciso ter em mente que os desafios do SUS estão constantemente interligados. Os baixos investimentos não se refletem somente na superlotação dos hospitais, mas também no aumento das doenças alarmantes, na falta de profissionais, na baixa infraestrutura etc.
Constantemente, vemos notícias informando sobre novas crises e surtos epidemiológicos, sobretudo de doenças que estavam desaparecidas, como sarampo e febre amarela. Nós estamos vivenciando um exemplo dessa situação com a infecção mundial pelo COVID- 19.
A doença infecto-contagiosa surgida no final de 2019 na China infectou 80 mil indivíduos e provocou mais de 3 mil mortes. Se o cenário fosse limitado à população chinesa, seria um desastre menor, porém a doença causada pelo coronavírus infectou todos os países da Europa e da América do Sul, além daqueles mais próximos geograficamente da China.
O coronavírus no Brasil já atingiu quase mil casos identificados, mas a incidência está em franca expansão, pois existem 11 mil indivíduos suspeitos de ter a doença. Um site disponibilizado pela Organização Mundial de Saúde mostra o avanço da doença em tempo real.
Por meio das informações obtidas dos infectados, é possível concluir sobre a população de risco, que está entre 20 e 59 anos, e sobre aquela mais fragilizada imunologicamente para combater a doença, como os idosos acima de 60 anos, que vão a óbito devido à insuficiência respiratória.
A pandemia do coronavírus suscitou medidas emergenciais dos países e, especificamente no Brasil, foram estabelecidos o fechamento indeterminado de escolas e universidades públicas, o distanciamento social e a permanência de todos em suas residências para evitar a disseminação do problema.
Todavia, conforme alertado pelas autoridades do Ministério da Saúde, o coronavírus no Brasil vai colapsar o já debilitado sistema de saúde público, dificultando a assistência clínica aos mais graves devido à falta de leitos de terapia intensiva e de equipamentos de suporte ventilatório.
A realidade que estamos vivendo, com a transmissão sustentada do coronavírus no Brasil, é um cenário em que os baixos investimentos nesse setor e o número insuficiente e a precariedade dos equipamentos dificultam ainda mais o trabalho dos profissionais, colocando a saúde da população em risco e, ainda, aumentando os desafios cotidianos das equipes estratégicas.
Como a capacidade hospitalar não suportará uma demanda tão alta em pouco tempo, o cenário pior que está por vir é o colapso do serviço, em que os profissionais clínicos optarão por disponibilizar equipamentos de suporte respiratório para alguns pacientes e deixarão outros à própria sorte, situação que já ocorre na Itália.
Outra questão preocupante é o forte movimento da população contra as vacinas nos últimos anos, principalmente pelo receio do desenvolvimento de patologias a partir delas. Isso ocasionou o surgimento de doenças, assim como o retorno de outras que, até então, estavam erradicadas.
Também surgiram boatos sobre as reações adversas ou doenças que as vacinas podiam causar, como paralisia dos membros inferiores, autismo etc., que foram refutados veementemente pela comunidade científica.
Dessa forma, o trabalho dos profissionais públicos (tanto na porta de entrada quanto nas secretarias) teve que ser redobrado para dar conta do atendimento de enfermidades já antigas. Eles também têm o papel de evitar o crescimento da mortalidade, modificando a gestão e a atuação constantemente.
Um dos cursos mais concorridos do Brasil é a Medicina, mas, por algum motivo, há poucos profissionais na saúde pública. Analisando os pontos já comentados, não é nenhuma surpresa que os médicos, enfermeiros e técnicos optem pela clínica privada, inclusive deixando de lado os concursos públicos.
Afinal, poucas pessoas querem trabalhar em um local que constantemente exige mudanças para lidar com patologias reemergentes, alta carga horária, turnos estendidos, infraestrutura precária e, sobretudo, baixo salário.
Além disso, embora existam profissionais interessados em atuar na rede, a má distribuição surge para complicar ainda mais a situação do Brasil. Médicos são redirecionados para lugares que não precisam de seus serviços, como algumas capitais, o que causa o negligenciamento de outras cidades.
Como comentamos, um problema está sempre relacionado a outro. Nesse sentido, a falta de médicos e enfermeiros nos hospitais ou nas unidades de saúde acaba gerando a superlotação e as grandes listas de espera.
Com a entrada do coronavírus no Brasil, os profissionais de saúde nos três níveis de atenção estão com uma sobrecarga de estresse físico e mental, o que prejudicará a assistência para aqueles que realmente necessitam. O governo brasileiro recrutará, como medida emergencial, médicos para atuar nessa epidemia e já está capacitando diversos profissionais para identificação laboratorial e clínica do paciente infectado, para a triagem dos indivíduos por meio de aplicativos etc.
Um dos pilares da saúde brasileira é o direito do atendimento para todos — a realidade, no entanto, não é bem essa. Embora quase 70% da população não tenha plano de saúde particular, as unidades de alta complexidade ficam sobrecarregadas com a falta de profissionais e de equipamentos de qualidade, enquanto as redes da atenção básica apresentam longas filas de espera.
Isso não só desmotiva os profissionais, mas também diminui a qualidade do atendimento, já que a demanda não é reduzida ao longo do dia. Com a elevação de patologias alarmantes, a chance do desenvolvimento de infecções hospitalares aumenta, gerando ainda mais estresse e dificuldade para a equipe — e, claro, entre os pacientes.
Essa é a realidade que as autoridades em saúde querem evitar com a chegada do coronavírus ao Brasil, pois a disseminação hospitalar foi apontada por estudos publicados pelos chineses como a principal causa de aumento dos casos de COVID-19. Assim que iniciaram o distanciamento social e o monitoramento dos pacientes em regime domiciliar, a incidência de novos casos diminuiu.
Assim como a falta de profissionais especializados, outros grandes desafios são a baixa infraestrutura e a pouca qualidade dos equipamentos disponibilizados. Se a motivação dos trabalhadores já estava reduzida em função da superlotação e da alta carga horária, a infraestrutura defasada só agrava o quadro.
Dessa forma, cada vez menos médicos e enfermeiros desejam trabalhar no sistema público, optando pelas clínicas privadas. A gestão responsável pela qualidade dos equipamentos e materiais também apresenta falhas, gerando mais desconfortos no dia a dia e diminuindo o nível da saúde pública brasileira.
Com a entrada do coronavírus no Brasil, a obsolescência dos equipamentos e a quantidade insuficiente serão desafios ainda maiores para diminuir a curva epidêmica e trazer a normalidade para os cidadãos brasileiros.
A tecnologia veio para revolucionar a vida do ser humano. Em todos os cantos, podemos encontrar pessoas que trabalham com a internet, utilizam as redes sociais, investem no entretenimento e aprimoram suas técnicas empresariais. Quando aplicados à saúde, os recursos tecnológicos trazem diversos benefícios, como:
Acontece que, com o baixo investimento na saúde pública, a tecnologia de ponta não pode ser experimentada pela população — esses benefícios só são aplicáveis à clínica privada. Além disso, o estímulo ao treinamento da equipe é reduzido, dificultando o uso correto dos equipamentos tecnológicos e, por consequência, intensificando a precarização do sistema público de saúde.
Esse panorama é resultado também dos baixos investimentos em saúde conforme relatado anteriormente e se agravará se a epidemia de coronavírus no Brasil atingir patamares gigantescos.
Frente a todos esses desafios, como desenvolver uma saúde pública de qualidade, que atenda às necessidades da população, valorize sua equipe e tenha uma boa gestão? O primeiro passo é investir na atenção básica, explorando as unidades de porta de entrada para, então, trabalhar com a média e a alta complexidades.
A epidemia de coronavírus no Brasil expôs uma situação complicada no já complexo sistema de saúde público. Mesmo diante de programas públicos reconhecidos mundialmente, ainda sofremos com baixa tecnologia, infraestrutura precária, profissionais desmotivados e, agora, sobrecarregados física e emocionalmente devido à infecção pelo COVID 19. Esperamos que a pandemia sirva de lição para gestores e demais envolvidos com o sistema de saúde brasileiro.
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